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Veja nesse post dois pontos de vista diferentes sobre a aplicação da técnica de Eletroconvulsoterapi


No dia 14.02.2019 foi publicado no site Jornal GGN - O Jornal de todos os Brasis o seguinte artigo:

A eletroconvulsoterapia em pauta: o cérebro como fetiche, por Rita Almeida

Veja abaixo a carta com a opinião do Doutor Guilherme Abdo

Belo texto para exemplificar como se forma opiniões distorcidas.

De forma clara e concisa, lançando mão de bons exemplos que ilustram nossa contemporaneidade, a autora fez uso de seu próprio instrumento cerebral para demonstrar exatamente o contrário do que supostamente pretendia defender, prejudicando, portanto milhares de pessoas que necessitam de um recurso terapêutico específico para salvas suas vidas.

Um texto com palavras coerentes, contextualizações históricas e pensamento supostamente voltado ao bem coletivo, esqueceu-se apenas do principal: a verdade.

Perfeito exemplo de texto falacioso, em que se tem cuidado com a forma, não com o conteúdo. Mais grave ainda é divulgar este anticientificismo anárquico, com potencial risco de prejudicar pessoas.

A Eletroconvulsoterapia tem 80 anos de respaldo científico, com benefícios comprovados, salvando vidas em casos de doença mental extremamente grave, em que não há mais NENHUM recurso médico que possa ser utilizado. Saúde não se politiza. Vidas humanas não têm partido. Lendo este texto, remeteu-me a imagem do político pomposo, engravatado, falando bonito e enganando toda a população. Prefiro gente simples que fala a verdade. Repito, o que importa é o conteúdo, não a forma!

É muita ingenuidade, pra não dizer persecutoriedade, imaginar que se está tramando uma política em prol do retrocesso na saúde mental, com o intuito de desrespeitar o movimento antimanicomial. Vale ressaltar que tal procedimento é utilizado no mundo todo. Imaginar que um aparelho em específico é muito caro para investir nas pessoas, me remete à quele sujeito que só anda de bicicleta e deixa de comer carne, achando que assim está salvando o mundo.

Prefiro imaginar que querer negar a existência da doença mental seja uma dificuldade de olhar para si próprio do que oligofrenia pura e simples, num mais autêntico ato de preconceito, ignorância e egoísmo. Tal pensamento se sustentaria se tal autora vivenciasse um transtorno mental grave em alguém de sua família? Se quer pensar no coletivo, tem que pensar na necessidade de cada um de forma personalizada, conceito utilizado pelo próprio SUS, já que a autora quis mencioná-lo sem saber verdadeiramente suas diretrizes.

Graças a investimentos caríssimos, temos possibilidade, por exemplo, de realizar um transplante hepático pelo sus. Vidas estão sendo salvas! Pq tal autora não se incomoda com vultosos gastos para este fim? Seria o portador de doença mental menos importante do que uma pessoa com insuficiência hepática? Da mesma forma, trata-se de técnica específica com gente especializada.

Nem todo procedimento médico pode ser feito de forma coletiva para economizar e pensar no bem geral da população. Não existe cirurgia coletiva. Vamos então fazer o SUS economizar na compra de aparelhos de cardioversão, afinal, só podemos reanimar um coração por vez. Desta forma não estamos pensando no bem coletivo, não é mesmo?

Na minha opinião, um dos atos mais vis que existem nos dias de hoje, é usar da saúde pública para demonstrar posicionamento político. Triste ver alguém falando tanto de cérebro, dos avanços tecnológicos que propiciam tantas descobertas e benefícios para as pessoas, mas usar o próprio cérebro de forma rasa e enviesada.

Esta é a verdadeira face contra a qual o movimento antimanicomial deveria lutar, pois são os que praticam o desserviço e obscurantismo na saúde mental, contribuindo para a perpetuação do estigma e desincentivo ao correto tratamento e busca de qualidade de vida, como em qualquer doença com a qual lidamos ao longo da vida.

Dr. Guilherme Lozi Abdo é médico psiquiatra, especialista em técnicas de neuromodulação como Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr) e Eletroconvulsoterapia (ECT). Possui residência médica e título de especialista em psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). É médico colaborador do Programa de Doenças Afetivas da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).

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