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Pandemia causa impacto na saúde mental dos brasileiros

Em nenhum outro lugar do mundo subiu tanto o diagnóstico de ansiedade e depressão, segundo um estudo da Universidade de Ohio em parceria com universidades de 11 países.



Incertezas e inseguranças em relação à pandemia têm afetado a saúde mental de milhares de brasileiros.


Os marcadores são de um paciente em estado crítico: o Brasil está doente, e não é só Covid.

“A gente está tendo uma nova onda de adoecimento psíquico. É um novo choque, é uma nova situação de estresse. Então quando a gente fala em nova onda da Covid também tem uma nova onda de risco para saúde mental”, relatou a psicanalista Vera Iaconelli. Por onde passa, o vírus deixa um tanto de tristeza e preocupação com o futuro, mas, no Brasil, médicos e psicólogos dizem que a onda de doenças psíquicas é uma outra epidemia, que cresce em paralelo à Covid. Em nenhum outro lugar do mundo subiu tanto o diagnóstico de ansiedade e depressão, segundo um estudo da Universidade de Ohio em parceria com universidades de 11 países. Sofremos mais que os outros porque, no Brasil, a pandemia demora a ceder, concluem os pesquisadores.

Ricardo Ricci Uvinha, coordenador do estudo, que no Brasil foi feito pela Unifesp e pela USP, explica:

“Países que deram rápidas respostas, como é o caso de Singapura, trouxeram uma certa situação de conforto para a população, em termos de informação. Ao passo que países que demoraram para dar uma resposta, como é o caso do Brasil, trouxeram essa situação de vulnerabilidade, com relação à incerteza e à percepção da doença”.


A falta de um horizonte para o fim de tudo isso pode virar sintoma.


“Hoje eu não consigo entrar num mercado, se alguém estiver próximo de mim atrás eu saio, deixo as coisas e saio. Eu não consigo ficar em ambientes muito tempo com muita gente. Você vê as pessoas próximas morrendo e aí você tem a noção que a sua vida é frágil e que você pode morrer amanhã. Dá um sufoco, dá um tremor no coração. Para quem está passando é muito real, é muito forte, não é algo tão simples assim”, contou a analista de TI Joyce Anjos França.


O infectologista Álvaro Furtado da Costa atende pacientes com crise de ansiedade todos os dias:

“Dor no peito, às vezes sensação de falta de ar, uma opressão na região do tórax. Então, às vezes, um quadro clássico de ansiedade que a pessoa acha que ela está começando a ter sintomas da Covid-19. Na Covid, geralmente é um quadro progressivo, que pode piorar, acompanhado de outros sinais. Na crise de ansiedade, você faz uma medicação para tirar a ansiedade do paciente, aí a falta de ar passa imediatamente”.


A falta de ar como sintoma da Covid é consequência da chegada do vírus aos pulmões - inflamados, eles não têm a mesma capacidade de captar oxigênio da atmosfera. Já a respiração ofegante em uma crise de ansiedade vem de um descontrole do sistema neurológico. A amígdala, localizada na parte mais profunda do cérebro, gera um alerta como se estivesse diante de uma ameaça. A resposta é uma combinação de cortisol, adrenalina e noradrenalina. A mente vira um terreno fértil para pensamentos negativos e irracionais e para o medo. Mas tem cura:

“Às vezes você não pode mudar a situação, mas o fato de poder falar dela, e ver com o outro, entende faz toda a diferença. Então a gente tem, sim, que buscar apoio. Isso é uma coisa que a Organização Mundial de Saúde falou desde o dia primeiro da pandemia: ‘Procurem situações e profissionais para compartilhar o sofrimento.’ Mas nem tudo é o profissional. A gente pode ter isso dentro do âmbito doméstico, com os amigos”, disse a psicanalista Vera Iaconelli.


Joyce melhorou com as sessões virtuais de psicólogos voluntários. Mas, feliz mesmo, “acho que só quando todo mundo conseguir se vacinar, quando realmente existir algum tipo de estabilidade nisso. Eu acho que todo mundo que passa por isso ou que passou vai conseguir de fato ficar com o coração acalentado, ficar com o coração bem”.


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